A evasão escolar é um problema grave no Brasil e afeta milhões de jovens em todo o país. De todo modo, as suas causas são complexas e têm raízes históricas no nosso atraso educacional.
Neste artigo, você vai conhecer como funciona essa evasão, quais são as razões da sua existência, as estatísticas desse cenário e também as propostas para preveni-la. Logo, continue com a leitura para descobrir.
O que é evasão escolar?
O fenômeno da evasão ocorre quando o estudante deixa de realizar a matrícula para o ano seguinte na escola. Infelizmente, esse quadro está presente em todos os níveis de ensino, desde a educação básica até o ensino superior. Entretanto, cabe diferenciá-la de outro problema educacional conexo: o abandono escolar. A saber, este último ocorre a partir da interrupção da frequência escolar por parte do estudante, ou seja, quando ele abandona os estudos antes de concluí-los.
Sobretudo, a evasão tem consequências graves para os jovens e para a sociedade como um todo. Os alunos que abandonam a escola perdem a oportunidade de adquirir conhecimentos e habilidades que são essenciais para o mercado de trabalho e para a sua sobrevivência. Nesse sentido, eles enfrentam maiores dificuldades para conseguir empregos, têm menor renda e correm maior risco de se envolver em atividades criminosas.
Um exemplo paradigmático dos efeitos adversos da evasão das escolas é o crescimento constante da “geração nem-nem”. Ou seja, milhões de jovens brasileiros que nem estudam, nem trabalham, afinal não conseguiram concluir a educação básica e estão defasados para o mercado de trabalho.
Motivos alegados
Ademais, existem várias razões para a evasão escolar no Brasil. Uma das principais causas é a falta de recursos financeiros e de incentivo familiar para a educação. A saber, muitas famílias não conseguem arcar com os custos educacionais como a compra de material escolar e o transporte para a escola. Além disso, muitos jovens precisam trabalhar para ajudar a família, o que acaba interferindo na frequência, no desempenho escolar e no estabelecimento de uma falta de perspectiva sobre o seu futuro.
Igualmente, os problemas de atendimento e de logística do transporte escolar no Brasil contribuem para que milhares de alunos tenham dificuldades ou até não consigam frequentar a escola. Sobretudo, esse aspecto pode ser notado principalmente em municípios pequenos, zonas rurais e áreas longínquas de vulnerabilidade social.
Outro fator que contribui para a evasão é a falta de estrutura das escolas. Desse modo, diversas instituições públicas de ensino apresentam problemas como falta de professores qualificados, salas de aula superlotadas, currículo arcaico, falta de material didático e de infraestrutura adequada, como laboratórios e bibliotecas. Certamente, esse cenário promove a falta de interesse dos alunos e o surgimento de dificuldades de aprendizagem, o que pode estimulá-los a abandonar os estudos.
Problemas conexos
Enfim, a violência também é um problema que afeta a frequência escolar de muitos jovens no Brasil. Em algumas regiões, o medo de assaltos e de violência nas escolas é tão grande que os alunos acabam abandonando os estudos por questões de segurança. Naturalmente, são poucas as instituições de ensino que têm condições de garantir o patrulhamento das suas instalações. Além disso, a violência dentro da escola também é um fator de risco, especialmente em casos como agressões entre alunos e bullying em sala de aula.
Ainda mais, a pandemia recente foi um dos principais motivos para a evasão dos alunos, como você verá a seguir. De fato, a interrupção repentina das aulas, a transição sem planejamento adequado para o ensino a distância e o longo período sem atividade escolar criaram um déficit de aprendizagem de difícil solução, assim como problemas sociais que durarão muitos anos.
Estatísticas
Agora, vejamos algumas estatísticas oficiais acerca da evasão escolar no Brasil. Embora muitos dados educacionais sobre 2022 ainda estejam sendo compilados pelos institutos de pesquisa, esse é um processo histórico longo no qual as informações dos últimos anos são bastante valiosas para interpretar esse fenômeno.
Censo Escolar 2022
Assim, segundo o Censo Escolar de 2022, registraram-se 47,4 milhões de matrículas nas 178,3 mil escolas brasileiras de educação básica. Desse modo, isso representa por volta de 714 mil matrículas a mais em comparação com o ano de 2021 (aumento de 1,5%). Desse montante, 49% se referem às escolas municipais, 31,2% às estaduais, 0,8% às federais e 19% às instituições privadas.
Quando estabelecemos o escopo para os níveis educacionais, verificamos os seguintes dados de flutuação de matrículas de 2021 para 2022: aumento de 8,5% na educação infantil; queda de 0,3% no ensino fundamental; aumento de 1,2% no ensino médio.
Observatório da Criança e do Adolescente
Em prosseguimento à nossa análise sobre os dados de evasão escolar no Brasil, é fato que a pandemia e a paralisia no sistema educacional foram agravantes para o aumento desse fenômeno em 2020 e 2021. Então, o país passa atualmente por uma fase de recuperação desse cenário.
Nesse sentido, as taxas de evasão apresentaram queda contínua até o ano de 2020, quando voltaram a subir. Confira as estatísticas levantadas pelo Observatório da Criança e do Adolescente (Fundação Abrinq):
- Ensino fundamental: 4,8% (2007), 1% (2020), 1,2% (2021).
- Ensino médio: 13,2% (2007), 2,3% (2020), 5% (2021).
PNAD Contínua 2021
Adiante, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2021 do IBGE também contabiliza importantes informações sobre a evasão escolar:
- aumento de 0,3% para 1% de crianças e jovens de 6 a 14 anos fora da escola (2019 x 2021), o que representa em termos absolutos uma taxa de 90.000 alunos para 244.000 alunos;
- queda de 4.4% de jovens de 15 a 17 anos fora da escola que não completaram o ensino médio (2019 x 2021 – segundo trimestre), o que significa em critérios absolutos aproximadamente 407.000 alunos dessa faixa evadidos no segundo trimestre de 2021 (frente a 486.000 em 2020).
Todos pela Educação
Além disso, a associação Todos pela Educação promoveu um levantamento sobre o abandono escolar no Brasil. Sobretudo, esse fenômeno educacional aumentou em 2021 comparado com o ano anterior: 0,2% no ensino fundamental (318.000 alunos) e 2,7% no ensino médio (388.000 estudantes).
UNICEF
Em último lugar, vale mencionar também uma pesquisa feita pelo IPEC para a UNICEF em 2022 sobre este tema. Ora, de acordo com esse estudo, 2 milhões de alunos de 11 a 19 anos deixaram a escola sem concluir devidamente a educação básica, o que representa 11% do total da amostra levantada.
Como prevenir a evasão escolar?
Existem algumas propostas de políticas públicas destinadas a acabar com a evasão no Brasil. Em primeiro lugar, o Bolsa Família é uma iniciativa que ajuda a amenizar esse cenário. Segundo as regras desse programa, as famílias com crianças só receberão o benefício caso essas estejam devidamente matriculadas na escola.
Entretanto, é fato que essa política se demonstrou insuficiente para combater o fenômeno de maneira concentrada, como percebido nas estatísticas. Assim, outras medidas são necessárias para complementar a atuação do Bolsa Família, o qual tem como foco a vulnerabilidade social. Por exemplo, uma proposta interessante surgiu durante os debates políticos nas eleições de 2022. Nos referimos à criação de um auxílio-permanência para jovens carentes que estejam cursando o ensino médio. De toda maneira, é fato que a melhora na educação passa necessariamente pelo combate aos problemas sociais no Brasil.
Sugestões
Por fim, podemos citar ainda outras iniciativas educacionais e políticas que ajudariam a amenizar a evasão escolar, direta ou indiretamente:
- programas de capacitação de professores: aumento do interesse dos alunos nas aulas e incentivo à permanência na escola.
- tecnologia educacional: o emprego de tecnologias de ensino e metodologias ativas tornará a aula mais atraente aos estudantes.
- promoção do acolhimento: adoção de políticas socioemocionais entre todos os envolvidos no processo educacional.
- prevenção à gravidez na adolescência: iniciativas escolares de conscientização sobre o tema e educação sexual, pois a maioria das alunas grávidas e parturientes tende a abandonar a escola.
- merenda de qualidade: garantia de alimentação robusta para o combate à fome.
- auxílio para transporte escolar: aperfeiçoar e investir mais nos programas públicos de deslocamento para a escola, especialmente nas zonas rurais.
- comunicação com as famílias: contato próximo e frequente dos gestores escolares com a família do aluno a fim de verificar e solucionar possíveis problemas.
- reformulação do PPP: reflexão e renovação do projeto político-pedagógico para melhorar a realidade da escola, com foco no atendimento aos alunos e à modernização do currículo.
- pacto federativo: aperfeiçoar o arcabouço legal da educação brasileira e melhorar a divisão de competências entre União, estados e municípios, assim como angariar a colaboração do Ministério Público, conselhos tutelares e outras instituições de destaque na sociedade civil.
- identificação da evasão: criação de programas governamentais a fim de identificar alunos que evadiram a escola e/ou estão em situação de vulnerabilidade social.
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