A ONG Todos Pela Educação divulgou recentemente uma pesquisa de opinião dos alunos do ensino médio que é bastante reveladora.
Neste artigo, você vai conferir como essa pesquisa foi feita, os seus principais resultados e o diagnóstico dessas estatísticas. Logo, continue com a leitura para descobrir.
Pesquisa sobre a opinião dos alunos do ensino médio
Primeiramente, essa pesquisa foi realizada em parceria com o Datafolha entre fevereiro e abril de 2022 em todo o Brasil. A saber, o objetivo principal do levantamento é identificar a percepção dos estudantes desse nível a respeito da própria escola e da sua formação educacional.
Por meio de uma metodologia quantitativa com entrevistas, foram definidas amostras entre todas as unidades da federação. Nesse sentido, elas representam o perfil dos alunos brasileiros de escolas públicas (gênero, idade, cor, escolaridade da família, dependência administrativa e renda familiar).
A seguir, você pode conferir os oito principais temas abordados nessa pesquisa de opinião, assim como as suas estatísticas referentes.
1) Relação com a escola
O primeiro tópico do levantamento diz respeito à percepção estudantil sobre a escola em que estudam. De antemão, 82% dos alunos a consideram boa ou ótima. Além disso, os três principais motivos para terem se matriculado nela são a proximidade com a residência, a decisão dos pais e a reputação da instituição.
Entretanto, os alunos do ensino médio também apontam os problemas existentes em suas escolas. Assim, os principais eixos nos quais elas precisam melhorar (segundo o levantamento) são a qualidade do corpo docente, as metodologias de ensino e de aprendizagem e a infraestrutura. Em relação ao sistema educacional e ao melhor turno de comparecimento para assegurar a frequência estudantil, a maioria dos entrevistados considera que os melhores modelos são o matutino totalmente presencial e o matutino híbrido parte presencial e parte a distância. Veja agora outras estatísticas de destaque:
- 94% dos alunos concordam que o conteúdo ensinado na instituição terá utilidade para as suas vidas;
- 93% acham que as aulas presenciais são boas;
- 92% identificam uma preocupação da escola em sanar o déficit de aprendizagem ocorrido por causa da pandemia;
- 90% atestam que a diretoria tem compromisso com o progresso da instituição;
- 88% creem que a escola está agindo para que os estudantes não larguem os estudos;
- 88% dizem que a escola demonstra ser um ambiente seguro;
- 79% concordam que não existe discriminação na escola;
- 46% afirmam presenciar a falta de professores ou aulas canceladas;
- 20% acreditam que os alunos não são respeitados como se deveria.
2) Elementos do ensino médio
Ademais, a pesquisa de opinião dos alunos do ensino médio também buscou identificar a percepção sobre a utilidade da escola na sociedade. Assim, 98% dos estudantes defendem que deveriam existir no percurso escolar capacitações para o mercado de trabalho. Nesse sentido, 92% acham que deveriam ter o direito de se aprofundar em uma área do conhecimento no currículo. Desse grupo, 43% (a maioria) consideram que o terceiro ano seria a melhor série para desenvolver essa especialização.
Naturalmente, este aspecto reproduz as transformações preconizadas pelo Novo Ensino Médio. A respeito do conhecimento sobre esse programa, a pesquisa identificou os seguintes dados com os alunos:
- 41% conhecem mais ou menos;
- 27% conhecem bem;
- 23% não conhecem;
- 9% conhecem mal.
Igualmente, o ensino profissional e técnico previsto no programa não é amplamente conhecido pela comunidade estudantil, como você pode verificar:
- 47% nunca ouviram falar;
- 33% conhecem mais ou menos;
- 12% conhecem bem;
- 9% conhecem mal.
3) Tempo integral
A educação em tempo integral é uma das grandes metas da educação brasileira. A pesquisa em questão avaliou que 63% dos alunos estariam abertos a estudar em uma escola com esse modelo, com a ressalva de que o conhecimento sobre ele ainda não é generalizado:
- 43% conhecem mais ou menos;
- 34% conhecem bem;
- 13% não conhecem;
- 10% conhecem mal.
Dentre as características mais apreciadas no sistema de tempo integral, estão: aulas de projeto de vida; tutores para sanar as dúvidas sobre o conteúdo; aulas práticas de ciências exatas; clubes de protagonismo; disciplinas eletivas; orientação de estudos; maior tempo para desfrutar com os amigos; turno único com três refeições. Todavia, os estudantes que não se interessam pelo modelo de tempo integral alegam diferentes razões: prejuízo ao trabalho; cansaço; falta de disponibilidade para outros compromissos.
Quando se compara o índice de satisfação com a escola dos alunos de modelo integral e os de modelo convencional, percebe-se que os estudantes de tempo integral estão mais satisfeitos em todos os quesitos:
- frequência dos professores;
- segurança;
- qualidade das aulas;
- ações de combate à evasão escolar;
- diretoria comprometida com a qualidade da instituição;
- aprendizagem de conhecimentos úteis;
- ausência de discriminação;
- auxílio na redução do déficit educacional na pandemia.
4) Docentes
Adiante, a opinião dos alunos do ensino médio acerca do trabalho dos professores é um dos eixos desta pesquisa. Veja a seguir os seus principais resultados:
- 79% dos alunos comentaram que tiveram um professor que lhes ajudou a construir o seu projeto de vida;
- 73% acreditam que os professores criariam um vínculo mais forte com os alunos se permanecessem mais tempo na escola;
- 59% concordam que as escolas proporcionam aos docentes boas condições para exercerem o seu ofício;
- 55% defendem que os professores são bem-remunerados;
- 49% apontam que os professores não são valorizados pela sociedade.
5) Tecnologia educacional
De fato, a utilização da tecnologia na educação é bastante influenciada por aspectos socioeconômicos, os quais estão presentes na pesquisa do Todos Pela Educação. Assim:
- 94% dos participantes afirmam que a tecnologia melhora a qualidade da escola;
- 73% têm internet de banda larga em seu domicílio;
- 68% (a maioria) têm celular com acesso à internet e o utilizam para as atividades escolares;
- 67% dizem que a escola utiliza corretamente a tecnologia na aprendizagem;
- 57% atestam que existem computadores e internet em sua instituição de ensino;
- 50% (a maioria) dos estudantes têm televisão com acesso à internet, mas não a utilizam para as atividades escolares;
- 47% (a maioria) dos alunos não tem um computador com acesso à internet.
6) Evasão escolar
O abandono da escola pelos alunos foi outro tema questionado nesta pesquisa. Dessa forma, 17% dos estudantes cogitaram abandoná-la nos meses prévios à pesquisa. Dentre os participantes desse segmento, 48% o fariam para se dedicar ao trabalho, 11% por causa do cansaço e 8% por falta de motivação.
A saber, a estatística também aponta que 11% dos alunos não se matricularam propriamente em uma escola pública em 2021.
7) Colocação no mercado de trabalho
O sétimo eixo da pesquisa de opinião dos alunos do ensino médio diz respeito especificamente à coexistência do percurso escolar com o mercado de trabalho.
Dessa maneira, pôde-se verificar que 32% dos estudantes trabalham além de estudar. Dentre os alunos desse grupo, 71% o fazem para adquirir independência financeira, 20% para complementar a renda familiar e 5% por considerar que somente a aprendizagem escolar não irá lhes garantir um futuro digno.
8) Perspectivas futuras
O grupo entrevistado de estudantes de ensino médio também respondeu às perguntas sobre a expectativa do seu futuro. Nesse sentido, 65% têm planos de ingressar em uma faculdade, ao passo que 22% almejam fazer um curso técnico. Em relação à percepção sobre o auxílio da instituição de ensino nesse processo de descoberta e de decisão após a formatura, colheram-se os seguintes dados:
- 61% acreditam que a escola ajuda muito;
- 34% afirmam que a escola ajuda um pouco;
- 5% defendem que ela não ajuda.
Diagnóstico
Sobretudo, podemos chegar a algumas conclusões sobre as estatísticas referentes à pesquisa de opinião dos alunos do ensino médio de escolas públicas. Inicialmente, a percepção dos estudantes acerca da sua escola é predominantemente positiva, apesar de eles elencarem alguns desafios a serem superados.
Entretanto, o conhecimento insuficiente de grande parte dos alunos acerca de iniciativas como o Novo Ensino Médio, o ensino profissionalizante e a educação em tempo integral é certamente um problema a se solucionar. No caso da opinião sobre o trabalho dos professores, nota-se que os estudantes reproduzem a impressão social geral sobre a desvalorização da profissão.
Além disso, os dados recebidos no eixo da tecnologia educacional reforçam que a defasagem da educação durante a pandemia foi agravada pela dificuldade de acesso à internet (para fins de estudo) por grande parte dos alunos. Ademais, embora o índice de evasão escolar não seja relativamente alto, ainda há muito a se fazer para zerá-lo.
Por fim, a quantidade expressiva de estudantes do ensino médio que também trabalham é outro desafio a se considerar, pois a possibilidade de que o seu emprego atrapalhe o rendimento dos estudos é bastante alta. Igualmente, o desbalanceamento entre a expectativa de ingressar no ensino superior e a vontade de fazer um curso técnico reflete as distorções no mercado de trabalho que existem no Brasil.
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