Um dos temas mais fascinantes estudado pelas ciências humanas é a sociologia clássica. A partir dela, conseguimos compreender quais são as bases pelas quais a nossa sociedade funciona e para onde estamos indo.
Neste artigo, você verá uma descrição mais detalhada dessa corrente, quais são os seus principais autores e quais são os conceitos mais importantes discutidos por eles. Logo, prossiga com a leitura para conferir.
O que é sociologia clássica?
Primeiramente, a sociologia, na qualidade de integrante das humanidades, é um campo do conhecimento relativamente jovem em relação às demais áreas. Ela se consolidou cientificamente por volta do século XIX com a obra de diversos pensadores de renome.
Desse modo, dá-se o nome de “clássicos” aos primeiros intelectuais dessa época que fizeram análises sociológicas da civilização moderna. A seguir, destacaremos os quatro principais autores desse contexto: Comte, Marx, Durkheim e Weber.
Auguste Comte (1798-1857)
Considerado o “pai” do positivismo, esse filósofo francês criou a base do que compreendemos hoje como sociologia. Dessa maneira, Comte buscou ao longo de sua carreira desenvolver uma ciência que compreendesse os fundamentos da sociedade, além de formular propostas para aperfeiçoar os nossos sistemas.
O autor escreveu em um contexto político conturbado na França, durante e depois da Revolução Francesa. Nesse sentido, Comte promoveu a ideia de uma sociedade ordenada para superar os conflitos, a qual teria a ciência e o progresso como os principais eixos de união e de tomada de decisões.
Assim, para que a nascente sociologia clássica tivesse um rigor científico adequado, o filósofo francês propunha que ela se inspirasse nos métodos das ciências da natureza. Por isso, Comte por vezes a denominava de “física social”.
Karl Marx (1818-1883)
Principal teórico do socialismo e do comunismo, esse pensador prussiano formulou a crítica do que ele denomina o “capital”, assim como uma análise pessimista da sociedade burguesa e industrial de sua época. Então, essa característica foi a sua principal marca na sociologia clássica.
O principal método de análise marxista era o materialismo histórico-dialético. Desse modo, para Marx, o motor da história é a luta de classes, na qual segmentos privilegiados explorariam os estamentos mais pobres. No contexto do capitalismo, o autor identifica esse processo como a exploração da burguesia, que detém os meios de produção, sobre o proletariado, que utilizaria a sua força de trabalho para sustentar um sistema considerado desigual. O conceito de mais-valia diz respeito ao excedente do trabalho do operariado que, em vez de ser adquirido pela própria classe, seria expropriado pela burguesia.
Marx compôs a sua obra em um contexto de desenvolvimento industrial e de várias revoluções pela Europa. Com o apoio do filósofo Engels, o autor formulou uma teoria política que defendia a ascensão do proletariado ao poder e a consequente queda do capitalismo por meio de uma revolução. Quando a classe operária tomasse os meios de produção, se estabeleceria uma “ditadura do povo”. Segundo esse discurso, o regime político socialista construiria progressivamente uma sociedade sem classes. Logo, ao fim desse percurso, se atingiria o comunismo e a abolição da propriedade privada.
Ideologia marxista
O conceito de “ideologia” formulado por Marx é interpretado segundo a ideia de que essa é uma consciência enganosa da realidade, a qual serviria como instrumento de opressão da classe dominante sobre o proletariado.
Desse modo, na ótica marxista, a ideologia serviria como um mecanismo de alienação do povo, o qual teria a sua “consciência de classe” desestruturada pela constante imposição de valores que legitimariam o capitalismo burguês. Sobretudo, o hábito conhecido como “fetiche da mercadoria” seria um bom exemplo desse quadro. Dessa maneira, uma sociedade de consumo alienada se voltaria à adoração de produtos nas lojas, em vez de questionar como se deu a produção desses objetos e de tomar as rédeas do seu próprio destino.
Émile Durkheim (1858-1917)
O método sociológico foi oficialmente instituído pelo sociólogo francês Émile Durkheim, que o consolidou nos currículos das universidades europeias. Em suma, ao aprofundar o desenvolvimento teórico de Comte, o autor propôs um modelo funcionalista de sociedade, no qual cada indivíduo teria uma função nesse ordenamento.
Enfim, Durkheim compreendia que a sociedade é o conjunto de crenças e práticas dos indivíduos. Nesse sentido, ele defendia o conceito de “fato social” como objeto de estudo primordial da sociologia. Essa ideia representaria as regras de destaque e os fenômenos que orientam e influenciam as pessoas. O autor argumenta que existem três características fundamentais de um fato social:
- Geral: regra generalizante sobre a vida dos indivíduos.
- Exterior: existentes previamente ao nascimento das pessoas.
- Coercitivo: geram punição em caso de descumprimento de uma ordem.
Outra vertente conceitual da sociologia clássica desenvolvida por Durkheim foi a divisão social do trabalho, ou seja, a discussão sobre as funções individuais e coletivas dentro de um sistema socioeconômico. O autor afirmava que a moralidade tinha um grande impacto nessas relações, especialmente a ideia de solidariedade, a qual tinha duas formas principais de manifestação: orgânica e mecânica. A solidariedade mecânica seria baseada nas tradições e nos costumes. Por outro lado, a orgânica teria fundamentos na interdependência entre os trabalhadores de um regime capitalista.
Teoria do suicídio
Émile Durkheim foi um dos primeiros pesquisadores da história a investigar as causas do suicídio pelo mundo a nível sistêmico. Então, ao identificar aspectos econômicos, sociais e culturais desse fenômeno, o autor estipulou três categorias nas quais ele se enquadraria:
- Egoísta: praticado por motivos pessoais, geralmente para aliviar o próprio sofrimento.
- Altruísta: quando a pessoa renuncia à sua vida em prol de uma causa maior.
- Anômico: ocorrido devido a situações de convulsões sociais, como crises econômicas.
Max Weber (1864-1920)
O pensador alemão Max Weber foi uma grande referência nas áreas de sociologia, economia e política. Tamanho foi o impacto de sua obra, que a breve experiência democrática-liberal na Alemanha anterior ao nazismo – a República de Weimar – teve a sua constituição baseada nas reflexões weberianas. Principalmente, esse autor dissertou sobre os modelos sociais e os tipos de dominação que os regimes impunham sobre os indivíduos. Nesse sentido, ele enumerou quatro categorias de ação social:
- Racional com relação aos fins: racionalização para atingir um fim por meio dos melhores meios.
- Afetiva: ação moldada por relações afetivas.
- Racional com relação aos valores: crenças socialmente valorizadas.
- Tradicional: ação moldada por um costume.
Tipos de dominação
A saber, Max Weber considerava como tipos ideais os parâmetros esperados de comportamentos sociais. No que se refere às relações de dominação, ele formulou três tipos descritivos:
- Carismática: relação moldada pela liderança de um indivíduo carismático e capaz de mobilizar indivíduos e grupos. Exemplo: ditadores.
- Tradicional: dominação fundada nos costumes e nas tradições. Exemplo: religiões.
- Legal: relação baseada no poder das leis e legitimada por sistemas políticos. Exemplo: governos constitucionais.
Ademais, o capitalismo industrial e financeiro vigente durante a vida do autor foi um dos pontos de interesse ao longo da sua obra. Utilizando o arcabouço conceitual da sua interpretação sociológica, Weber identificou diferenças históricas que determinaram a variedade de relações capitalistas nos diferentes países. Assim, uma de suas principais teses é que esse sistema foi fundado pela “ética protestante”, ou seja, pela tradição dos povos que aderiram à Reforma Protestante a partir do século XVI. Em especial, as crenças da predestinação e de que a riqueza seria fruto da graça de Deus.
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