Trovadorismo

trovadorismo

O trovadorismo foi uma importante expressão cultural na Idade Média. Nesse sentido, ao estudá-lo, podemos obter uma compreensão mais profunda acerca da riqueza da cultura desse período e de sua influência nas artes europeias.

Neste resumo, você vai conhecer o contexto histórico do movimento dos trovadores, as características dessa corrente cultural, os seus principais autores e a categorização das suas cantigas. Assim, continue com a leitura para conferir.

Trovadorismo: contexto histórico

A Idade Média, um período histórico que se estendeu do século V ao XV, foi marcada por uma série de movimentos culturais que moldaram a Europa ocidental. Entre esses movimentos, destaca-se o dos trovadores, os quais integraram um fenômeno literário e musical que floresceu principalmente nos séculos XII e XIII.

A saber, essa corrente teve origem na região da Provença, no sul da França, no século XII. No entanto, rapidamente se espalhou por toda a Europa e influenciou as cortes nobres e os trovadores de outras regiões, como a Espanha, Portugal, Itália e até mesmo a Inglaterra. Sobretudo, este movimento emergiu em um contexto de transformação social, econômica e cultural na Europa medieval. Nesse sentido, vale citar os seguintes fenômenos:

  • renascimento urbano e comercial;
  • cruzadas;
  • consolidação dos idiomas neolatinos;
  • crescimento das identidades nacionais;
  • predomínio da Igreja e contestações à sua autoridade;
  • teocentrismo;
  • feudalismo;
  • relações de suserania e vassalagem;
  • arte religiosa.

O mundo dos trovadores

Ademais, o trovadorismo é conhecido por ser um dos primeiros movimentos literários e musicais europeus. O seu estilo foca na lírica poética, com ênfase na expressão de sentimentos e emoções pessoais. Enfim, é essencial considerar que a poesia medieval foi composta para ser cantada nas cortes da aristocracia, geralmente acompanhada de instrumentos musicais com o objetivo de cativar a audiência.

Em suma, um trovador era um poeta itinerante que cantava as suas poesias nas cortes, vilas e cidades, frequentemente integrado a um grupo de outros artistas, como os menestréis (músicos) e as baladeiras (dançarinas). A origem social desses artistas era diversa, os quais poderiam ser nobres ou populares (conhecidos como jograis). De fato, a sua produção artística contrastava com o monopólio da alfabetização pela Igreja, pois a maioria esmagadora das pessoas capazes de ler e escrever pertencia ao clero.

Embora a característica da literatura trovadoresca seja oral, as suas produções literárias chegaram à posteridade por meio de documentos chamados de “cancioneiros”. Sobretudo, eles eram compilações dessas obras presentes em pergaminhos e manuscritos, os quais se podem encontrar hoje em bibliotecas no Vaticano e em Portugal.

Características e autores da literatura trovadoresca

As formas poéticas do trovadorismo eram fixas, com estruturas rígidas de estrofes e métricas. Por exemplo, podemos citar o canso (canção de amor), a tenson (debate poético) e a pastorela (canção de pastores).

Sem dúvidas, o principal tema retratado na literatura trovadoresca era o amor cortês. Esse conceito representava uma forma idealizada e muitas vezes platônica de amor que frequentemente envolvia um cavaleiro e uma dama inatingível. Portanto, ele era marcado pela devoção, galanteria e cortesia. Por outro lado, essa corrente cultural também abordou assuntos como a guerra, o cristianismo, a política, os modos de vida da aristocracia e a natureza em suas composições.

Devido ao seu caráter itinerante, muitas composições da literatura trovadoresca têm autoria desconhecida. Entretanto, podemos citar Arnaut Daniel, João Soares de Paiva, João Garcia de Guilhade, Aires Teles, Paio Soares de Taveirós, Martin Codax, João Zorro e Vasco Martins de Resende como expoentes desse movimento cultural. Além disso, monarcas ibéricos como Dinis I e Afonso X também produziram obras de destaque.

Cantigas ibéricas do trovadorismo

Certamente, as cantigas são as obras mais conhecidas da literatura trovadoresca. A saber, a Cantiga da Ribeirinha foi a produção considerada como marco inicial desse movimento. Ela foi escrita no final do século XII pelo trovador Paio Soares da Taveirós e dedicada à dona Maria Pais Ribeiro.

Essas cantigas foram predominantemente compostas na língua galega-portuguesa, com grande disseminação na península ibérica. Desse modo, elas podem se dividir entre obras líricas e satíricas, como você verá a seguir.

Líricas

Amor

Primeiramente, as cantigas de amor expressam um estilo lírico-amoroso erudito, no qual um eu-lírico masculino se apresenta na primeira pessoa. Assim, o principal tema é a rejeição da amada diante do seu cavalheiro em sofrimento (cuja dor é denominada “coita”). Veja agora como exemplo a tradução da Cantiga da Ribeirinha:

No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e – ai! –
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!
E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor.

Amigo

Além disso, as cantigas de amigo no trovadorismo são composições de autoria masculina, mas com o eu-lírico feminino. Neste caso, o sofrimento amoroso aparece de forma mais sutil, como no sentimento de uma senhora diante da partida do seu amado para a guerra. Os temas da saudade e do ambiente bucólico também estão presentes nesta categoria, com uma linguagem mais simples que as cantigas de amor. Desse modo, confira a tradução de uma cantiga de Martim Codax:

Ai ondas que eu vim ver,
se me sabeis dizer
por que tarda meu amigo sem mim?
Ai ondas que eu vim mirar,
se me sabeis contar
por que tarda meu amigo sem mim?

Satíricas

Escárnio

Por outro lado, temos também as cantigas de escárnio que impõem um tom satírico à literatura trovadoresca. Dessa forma, o seu propósito é ironizar indivíduos e situações sociais. Em resumo, essas cantigas oferecem uma crítica branda, repleta de figuras de linguagem e trocadilhos, sem menção direta à pessoa criticada. A título de exemplo, confira esta cantiga traduzida composta por João Garcia de Guilhade:

Ai dona feia, fostes-vos queixar
que vos nunca louvei em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvarei ainda;
e vedes como vos quero louvar:
dona feia, velha e idiota!

Maldizer

Em último lugar, as cantigas de maldizer também têm um tom satírico, assim como as de escárnio. Todavia, elas apresentam uma crítica direta, com palavras grosseiras, ofensivas e que mencionam diretamente a pessoa denunciada, como você pode ver nesta versão traduzida da cantiga de Afonso X:

Trovas não fazeis como provençal
mas como Bernaldo o de Bonaval.
O vosso trovar não é natural.
Ai de vós, como ele e o demo aprendestes.
Em trovardes mal vejo eu o sinal
das loucas ideias em que empreendestes.

Legado cultural e histórico

Por fim, o trovadorismo deixou um legado significativo na literatura e na música europeias. Inclusive, ele contribuiu para o desenvolvimento da poesia e da música do final da Idade Média, assim como a sua subjetividade influenciou escritores renascentistas como Dante Alighieri e Francesco Petrarca.

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